Nùcleo de Teatro de Rua ELT

Saturday, March 24, 2007

Policia Interrompe apresentação teatral

Grupo Kabana

Por Anderson Gallan Ued

26/11/2006



Quando o grupo montou seu cenário e iniciou a apresentação, o guarda gritou:

“Parque municipal não é lugar para apresentações artísticas!”

E que ele estava baseado numa lei da década de cinqüenta, que proibia apresentações em parques e praças, afirmando que seu objetivo com a reprimenda era garantir a segurança dos cidadãos, pois pelo que se dizia antigamente em um espetáculo na rua o público subiu em arvores para assistir, provocando a queda de uma delas, o que resultou na morte de uma pessoa e vários feridos.
Mas ninguém queria saber de historias antigas então o grupo foi arrumando suas trouxas e caminhando em direção ao teatro Francisco Nunes, o mais interessante é que o público acompanhou os artistas.

De frente ao teatro a roda se formou novamente e o espetáculo ia recomeçar quando chegou o guarda e...

“Seu guarda agente apresenta e depois o senhor prende todo mundo!”

– Solicitou, gentilmente o pobre ator que estava na perna de pau.

E não é que o guarda atendeu seu pedido !!!
Assim que o espetáculo acabou, diante dos calorosos aplausos os atores foram todos detidos.

Você pode acreditar numa coisa dessa?
O publico ficou boquiaberto! A maioria dos presentes nunca tinha visto um espetáculo de teatro, inda mais assim na RUA.

Essa historia de fazer teatro na rua começou um pouco antes, quando chegaram a Belo Horizonte dois alemães – George Frescher e Kurt Bildstein – do teatro livre de Munique – trazidos para ministrar uma oficina de técnica de trabalho do ator, no teatro Marilia, no primeiro semestre de 1982.
A oficina trazia influencias grotowskianas, utilização de técnicas circenses e influencias do teatro musical brechtiano. Esses pontos marcaram definitivamente as pessoas que fizeram a oficina.

Mauro Lúcio, hoje diretor do teatro Kabana, declara que o que mais lhe impressionou foi à possibilidade de fazer teatro na rua.

Enquanto que Eduardo, do Galpão, diz que o fundamental para eles foi a técnica de treinamento do ator.

Hoje podemos constatar que os dois conseguiram dar continuidade aos desafios semeados. Mauro ao chegar em diamantina, fez realizar com outros atores uma leitura politizada de teatro de rua, montando um espetáculo que acompanhou a campanha do PT para governo estadual.
Eduardo junto com Teuda, Wanda e Toninho formaram o grupo Galpão fazendo vários espetáculos na rua.

O teatro de rua sempre esteve paralelo com a militância política, com movimentos estudantis e sindicatos. Nos paises ditos civilizados, EUA, Inglaterra, Dinamarca e etc. As praças são realmente publicas e a qualquer pessoa é dado o direito de se manifestar, seja pela musica, teatro ou simplesmente, fazer um piquenique com a família.

Vamos exercer nosso direto de se manifestar. Vamos as ruas reivindicar nossos direitos como Jovens e Estudantes que somos.

Quis trazer esse texto porque alem de mostrar um pouco do inicio da historia do teatro de rua no Brasil, temos a ligação com esses ideais políticos. O teatro de rua sempre esteve ligado a militância e a juventude. Fica aqui também registrado meu carrinho por Nélida Prado e Mauro Lucio do Teatro KABANA por ter, com bastante humildade, nos recebido e passado um pouco do seu vasto conhecimento. Muita Merda pra todos.

Derson Ued
DOOM Grupo de Teatro

Friday, March 23, 2007

Locômbia - Teatro de Andanzas

Beatriz Brooks na II Mostra Macuxi de Artes - SESC / RR

Marcelo Perez · Boa Vista (RR) · 1/12/2006 10:12 ·

Fonte: http://overmundo.com.br/overblog/noticia.php

"Eu sou Dionísio!"

Essa frase pronunciada por Téspis no século VI a.c., na Grécia, mexeu com a sociedade daquela época, pois nunca nenhum membro do coro grego havia se pronunciado sozinho. Naquele momento nascia o Teatro. E em plena rua.

Em Boa Vista não é difícil encontrarmos artistas experimentando as suas técnicas em sinais e praças da cidade, ousando como Téspis da Grécia Antiga. Por aqui existem grupos que uma vez ou outra resolvem realizar o teatro na rua, montam literalmente um palco, iluminação, som e celebram esta arte para todos que se interessarem em parar para assistir.

Mas o teatro de rua mesmo não é uma prática nesta cidade. Essa linguagem, muito bem trabalhada e conhecida por grupos como Tá na rua, do Rio de Janeiro e Grupo Galpão, de Minas Gerais, agora é que começa a despertar a classe teatral local.

Existe hoje na cidade apenas um grupo que desenvolve essa linguagem: Locômbia, Teatro de Andanzas. E curiosamente esse grupo é formado por dois colombianos e um brasileiro. Beatriz Brooks, 41, Orlando Moreno, 45, colombianos e Shanti Ram, com cinco anos, o único brasileiro do grupo e filho do casal.

Locômbia, Teatro de Andanzas é um grupo tradicionalmente familiar, que desde 1986 resolveu sair pelo mundo visitando diferentes culturas e sempre fazendo teatro. "É uma filosofia de vida", como diz Orlando. Eles já estiveram em lugares como México, Costa Rica, Canadá, Alemanha, Hungria, Slovenija, participaram de festivais na Suécia, Dinamarca, Índia, Moçambique, Nepal e toda a América Latina.

O grupo já mora há cinco anos no Brasil e já estão em processo adiantado para se naturalizarem no País. “Já tá na hora de fixar residência, criar uma estrutura segura para nosso filho”, como diz Orlando. Boa Vista é privilegiada em ter essa trupe de saltimbancos interessada em dividir experiências com artistas locais.

A relação deles com o Brasil surgiu em 1987 quando em turnê pela América do Sul, em um festival na Argentina, eles conheceram um grupo de teatro brasileiro. O Grupo de Teatro dos Afogados, de Hugo Hodas, um dançarino uruguaio que já morava em Brasília há muitos anos.

“Bom, já tínhamos contatos no Brasil, então fomos pra lá e paramos em Brasília através da nossa turnê. Intercambiamos com Hugo Hodas. Fizemos a oficina dele de dança e em troca oferecemos nosso trabalho de mímica e pantomima para os dançarinos dele”. Orlando disse que durante as viagens eles sempre encontravam um meio de intercambiar seus conhecimentos com a cultura local, o que tornava mais rico o seu trabalho.

Depois de Brasília foi a vez da cultura nordestina encantar o grupo. Eles não conheciam o frevo, que logo foi agregado ao repertório do grupo. “Nós, como viajeiros vamos integrando toda essa bagagem de técnicas ao nosso trabalho profissional. Sofremos muita influência, principalmente da música. Nosso espetáculo atual tem “Maria, Maria”, de Milton Nascimento, o movimento da capoeira, a ginga, o Afro com o tambor e o batuque.”

Ao falar de patrocínio com ele, Orlando diz que “o grupo sempre foi autogestionário. Na Colômbia era muito difícil de encontrar apoio e sempre realizávamos as oficinas. A vontade mesmo do grupo era conhecer outras culturas. E íamos fazendo espetáculos passando os chapéus e muitas vezes os chapéus eram melhores que os cachês e íamos continuando nossa viagem. Recebíamos convite pra realizarmos oficinas em escolas, universidades e depois íamos pra outras cidades. Já estamos viajando assim há 20 anos. Quando se viaja é muito difícil de conseguir patrocínio, pois nós não pertencemos ao lugar”.

Tanto tempo viajando me despertou logo a curiosidade de saber como é a rotina dessa trupe familiar e sem pestanejar e com muito orgulho do que faz ele diz que “a nossa rotina é de teatro mambembe, de circo, de família onde se mistura tudo, a criação com a cozinha, com a mecânica, a convivência. Dou aulas pro meu filho de inglês, português, espanhol, música. Não encontramos uma escola integral pra ele. Estamos preparando um novo espetáculo que ensaiamos em momentos livres, está na encubadeira. Somos amantes de nossa arte, gostamos do que fazemos. Só podemos fazer isso porque somos uma família, um casal com um filho. Se existissem mais pessoas seria muito mais difícil. Uma vez formamos um grupo com duas Kombi, inclusive com artistas brasileiros, mas não deu certo. Muito gasto e pouca entrada. Moramos aqui nessa casa com três cômodos, bem simples e vamos trabalhando. Minha esposa dá aulas de Yoga e percebemos que essa cidade tem um mercado promissor. E dinheiro não é tudo, o mais importante é a riqueza compartilhada. O dinheiro vai chegar pra pagar as contas, nunca falta. Desde que chegamos aqui nunca nos faltou nada”.

A formação do grupo vem das ruas, da prática, da insistência e repetição de exercícios, qualidades que Orlando vê também no artista brasileiro, “o ator brasileiro é muito hábil, muito aberto pra receber informações”. Na época em que o grupo surgiu, Orlando havia acabado de sair do ensino médio e como a Universidade estava fechada na Colômbia, ele e seus amigos resolveram dar continuidade ao trabalho teatral que já realizavam na escola. “Nós não queríamos fazer o teatro de academia, o tradicional, Brecht, ou o de televisão, nós não fomos pra escola de teatro. Queríamos fazer outro tipo de teatro e começamos a compartilhar com grupos maiores, aprendendo técnicas, e acho que quem quer fazer teatro deveria ir pesquisar com grupos. Nós íamos pra cachoeiras, pras ruas, com pernas de pau, pra exercitar, confrontar o ator com o público, nas montanhas, naquela época era um teatro de compartilhar, se você quisesse aprender música era só procurar algum grupo que tinham a técnica e aprender com eles. O teatro de grupo forte mesmo foi naquela época, hoje é o teatro de diretor. Na Colômbia muitos atores estão na televisão. Eles deixaram o teatro de grupo e hoje estão completamente sem gestos, limitados”.

E não é isso o que eles querem. O grupo Locômbia continua pesquisando novas linguagens. Eles estão ensaiando agora um novo espetáculo que conta as fases da vida de uma pessoa, com várias técnicas, pernas de pau, técnicas brasileiras...

Conversamos também sobre a cena teatral de Boa Vista, e a observação feita por ele é de que aqui existe vitalidade, “está se criando um movimento muito grande de teatro de grupo, tem o Fórum Permanente de teatro, que nós não fomos ainda, mas ano que vem estaremos lá. O seminário Estadual de Cultura realizado aqui foi muito importante para os artistas gritarem que existimos. Agora os trabalhos, eles são experimentais, que misturam todas as técnicas. Ainda faltam amadurecer, mas o importante é correr o risco. Amadurecer, não tem um teatro profissional, precisamos é aprimorar as técnicas”.

E por que Locômbia?

“Fomos barrados no consulado da Colômbia, em Brasília, 1992. Era uma festa dos descamisados e eles disseram que só podiam entrar militares. Nessa época, em 92 mudamos o nome do grupo de LATARIMA pra Locômbia. Não queríamos pertencer a um país que nos fechou a porta, os consulados não servem pra nada, não apóiam em nada. Locômbia é um país utópico, sem guerras, sem miséria, sem narcotráfico, é um país sonhado por todos os artistas, é um segundo andar da Colômbia... continuam com aquele mesmo espírito do início”.

O grupo agora está de volta à Colômbia. Vão visitar a família, pegar o restante de suas coisas e retornarão à Boa Vista. Dessa vez para ficar. Ele lembra que “no início não éramos reconhecidos pela família, mas depois que saímos, demoramos bastante, e voltamos vivos, aí sim fomos reconhecidos como artistas. Estamos indo pra Caracas e depois voltaremos pra Boa Vista já pra morar. A idéia é montar uma sede, um espaço pra dar aulas de yoga, mímica, origami, ensaiar espetáculos. E sempre nos apresentando pelo caminho. Esse é o nosso meio de sobrevivência”.

Questionado sobre os motivos que ainda o fazem alimentar esse desejo de divulgar a arte pelas ruas da cidade, me surpreendeu bastante quando disse que "mesmo morando aqui nunca deixaremos de viajar. Precisamos sempre voltar, depois que se começa a viajar não dá pra parar. A arte mexe com o coração da gente, é vital, não é pelo dinheiro, é pelas pessoas que assistem aos espetáculos”.

REPERTÓRIO: (ver site do grupo)

Mara Baraha

O espetáculo Maha Baraha foi inspirado na Mitologia Hindu, na qual a Criação, a Preservação e a Destruição se combinam para criar a harmonia no Universo. Conta-se a historia maravilhosa de um encantador de serpentes (representando o demônio Hiranakio) que rouba o mundo da sua protetora, a Mãe Terra.

Compassos Em Silêncio


Esta peça foi inspirada nos encontros e desencontros da vida cotidiana, os quais são enfrentados de uma maneira poética, trágica e cômica. Através das Mímicas de "Compassos em Silêncio", o grupo desenvolve um teatro sem palavras, utilizando uma linguagem não verbal e corporal com música ao vivo (Saxofone, clarineta e percussão) enriquecido com Máscaras, Origami e alguns objetos.

Odissi


A Dança Odissi é originária da região de Orissa, situada ao nordeste da Índia. Faz parte do Culto ao Deus negro Jagannath, sendo uma representação de Vishnu, Deus que preserva. As bailarinas do Templo, chamadas de "Maharis" ou "Devadasis", eram jovens que consagravam suas vidas ao Deus e ao rito cerimonial, sendo treinadas pelo Guru ou Mestre do templo na tradição sagrada de contar historias da Mitologia Hindu através da expressão corporal e um rico vocabulário de gestos.Odissi tem um caráter espiritual e estético, relembrando a simbologia da Yoga e a Meditação em que se busca a união entre a mente e o corpo para liberar o espírito. A característica principal da dança é o Tribangui, correspondente a três dobras do corpo (na cabeça, no tronco e nos joelhos), formando sempre um triângulo com o corpo do bailarino, relembrando a linha sinuosa da estatuária em pedra dos templos hinduístas. Combina-se a expressão dramática com uma refinada e sensual estilização de movimentos corporais suaves e fortes, busca despertar emoções no espectador.

Marcelo Perez

Serviços:

55 – 095 – 8111-7042

E-mail: locombiateatro@yahoo.es

locombiateatro@hotmail.com
Página Web: www.atomoservicos.com.br/locombiateatro

A força do teatro de rua


Marcos Paulo · Porto Velho (RO) · 15/10/2006 14:44 ·





Quando se imaginaria que o teatro de rua ganharia tanta força em Porto Velho?”


Ouvi, sem querer, um dos estudantes em comentário discreto, mas preciso, sobre o espetáculo “O Mistério no Fundo do Pote - Ou como surgiu a fome”, de Ilo Krugli, interpretado por atores do grupo “O Imaginário”, que segue a temporada até o final de outubro. Tudo é muito novo, o que não significa falta de qualidade.


Quer mais um exemplo de como essa “novidade” veio pra ficar? “O Julgamento de Branca Dias pela Santa Inquisição”, de Dias Gomes, apresentado bem ao centro de um dos patrimônios históricos da capital: a praça das Caixas D´Água. Prossiga nas próximas linhas e logo vai entender como é essa força que o teatro de rua conquistou e encantou pessoas da cidade banhada pelo rio Madeira.


Depois de receber o Prêmio Funarte de Teatro Mirian Muniz, em maio deste ano, o grupo “O Imaginário” reuniu nove atores jovens de Rondônia para fazer a montagem da peça, que mais tarde percorreria as ruas de bairros considerados afastados do centro urbano. Para dirigir o espetáculo, nada menos que o conceituado e especialista em teatro de rua Narciso Teles, diretamente do Rio de Janeiro a Porto Velho, que teve apenas quinze dias para preparar os atores. Também não foi o primeiro a estranhar que por essas bandas de cá muito ainda deve ser feito. “Falta incentivo aos que querem que a arte atravesse e ganhe novas fronteiras”, enfatizou. Segundo ele, “o teatro de rua modifica poeticamente o espaço urbano e, ao mesmo tempo, abre-se para as inúmeras e possíveis interferências, como sons, falas, vento...”. Como mudou e acrescentou o aprendizado de uma das atrizes da peça, Tati Andrade, 23 anos, que estreou no teatro de rua. “Tudo está sendo muito novo pra mim, mas tenho certeza que quem assistir à peça verá que houve muito empenho e vontade de fazer acontecer: tanto pra nós, como ao público”.


O primeiro passo foi dado. Gente que nunca havia assistido a uma peça de teatro pôde conferir e se emocionar, de perto e gratuitamente, com a velha e pequena cidade ficcional de “Três Saudades”, num tempo em que não existia a fome e todos pegavam apenas o necessário, como reza a dramaturgia de Ilo Krugli. “Nem sabia que existia teatro na rua”, revelou a pequena e ingênua Fabiana Monteiro, 14 anos, que pela primeira vez assistiu a um espetáculo teatral sem sair do próprio bairro. Não obstante, o estudante Diego dos Santos, 16 anos, um pouco mais agitado, até articulou com seus amigos uma possível continuidade de projetos desta natureza ao seu bairro, o Tucumanzal, que já foi considerado um dos mais perigosos da cidade. “Nós daqui dificilmente temos oportunidade de assistir a um espetáculo como este, ainda mais de graça”, lamentou.


“Por ser ao ar livre, é como se fizéssemos parte do espetáculo”, analisa o estudante de História James Silva, ao assistir pela primeira vez ao espetáculo “O Julgamento de Branca Dias pela Santa Inquisição, apresentado francamente aos domingos pelo grupo “Abstractus”, na praça das Caixas D´Água. A peça é baseada no texto “O Santo Inquérito, de Dias Gomes, dirigido por Elcias Villar, que conta a história do julgamento de Branca Dias no século 18, ela é acusada de ter cometido pecados e atos contra a moralidade.


Ao longe, mais parece um tumulto ver a platéia camuflar a respiração boca-a-boca de Branca Dias ao Padre Bernardo, onde se inicia o processo de denúncias que levam a protagonista à prisão. Mais tarde, ela vem a ser queimada, segundo relata a história da trama. O espetáculo originou-se ainda em 2003, mas, por falta de espaço para apresentações e depois de anos de pesquisa, a direção do espetáculo resolve aceitar o desafio e trazer a história de Branca a sua concepção original.


No fundo, não era difícil imaginar que Porto Velho poderia – e pode – ter essa força de atrair centenas de pessoas para apreciar, descobrir e se encantar com a beleza e improvisação que é o teatro de rua. Sentir esse triângulo que se forma entre platéia, espetáculo e incertezas no cenário a céu aberto, por assim dizer, prova que basta unir as forças de grupos como “O Imaginário”, “Abstractus” e tantos outros com um pouco mais de incentivo a quem deseja levar cultura, arte e entretenimento.

Para mudar a realidade, Caretas





Joana Moscatelli

Rits. Brasil, agosto de 2005.


Desde 2001, o Grupo de Intervenção Social - Teatro Caretas trabalha com temas ligados a questões sociais, promovendo a reflexão e a mobilização da população da periferia de Fortaleza (CE). Formado por quatro atrizes, a idéia do grupo é fazer do teatro um veículo de transformação social, abordando em seus espetáculos assuntos que tenham a ver com a realidade do público e que o ajude a se mobilizar para mudar e lutar por seus direitos.


Através de pesquisas na área de cultura popular, a iniciativa busca relacionar suas peças com questões sociais e problemas existentes. Os espetáculos são inspirados no trabalho de dramaturgos como Bertold Brecht e Augusto Boal, autores que, apesar de defenderem técnicas teatrais bem diferentes, buscam a conscientização do público acerca de temas ligados ao seu cotidiano. "Assim como Brecht, acreditamos na responsabilidade social do teatro. Trabalhamos com a idéia de um teatro que mobilize as pessoas a atuarem na sua realidade criticamente", explica Vanessia Gomes, uma das atrizes integrantes do grupo.


Além disso, o Teatro Caretas também trabalha muito com o conceito de "Teatro Fórum", de Augusto Boal, apresentando suas peças em praças públicas, associações comunitárias e festivais. Boal é o criador do Teatro do Oprimido, que rompeu com a estética tradicional do teatro e propunha o envolvimento da platéia na cena.


Com isso, o grupo quer levar para áreas pobres peças que tratem de temas ligados ao cotidiano das pessoas e abrir o debate acerca de problemas que as afligem. Após as apresentações, são realizadas oficinas de teatro, circo e percussão. Além disso, são promovidas palestras que buscam aprofundar ainda mais a discussão.


Outra grande fonte de inspiração para o grupo é o educador Paulo Freire. As idéias de educação popular do pedagogo influenciam as atrizes, que buscam em tradições populares, como o reisado e os folguedos, temas para seus espetáculos. Inspiradas na cultura tradicional popular, elas apresentam peças de teatro de rua, aliando arte e política.


Entre as peças que o Grupo já produziu estão "Acorda Zuleica!", que discutia a importância da consciência ambiental, e "E agora, José?", que incentivava a elaboração de políticas públicas para melhorar a condição das pessoas que vivem em áreas de risco. O último espetáculo produzido foi "A casa da mãe Joana", cujo tema era a violência sexual contra crianças e adolescentes. Durante as apresentações, o Teatro Caretas entrou em contato com o Centro de Referência da Mulher de Fortaleza e surgiu a idéia de realizar um espetáculo que tratasse da violência doméstica contra a mulher.


E será justamente este o tema da próxima peça. Ainda em fase de montagem, "Rompendo o Silêncio" conta a história de uma rainha que sofria com a violência do rei e achava que nada poderia fazer para mudar sua realidade até perceber que deveria abandonar o rei. A situação é conhecida e vivida por muitas mulheres brasileiras, e a intenção é fazer com que elas percebam, assim como a personagem, que não devem aceitar serem humilhadas e maltratadas por seus maridos e companheiros.


A estréia está prevista para outubro no bairro de Jangurussu, em Fortaleza. Atualmente, o Grupo está identificando áreas onde os índices de violência contra as mulheres são maiores e realizando contatos com associações, movimentos de mulheres e de luta contra a violência doméstica.


A articulação com movimentos sociais e culturais além de associações comunitárias é fundamental para que o grupo possa identificar questões a serem tratadas em seus espetáculos. As integrantes buscam trabalhar em parceria com movimentos sociais e políticos como o Instituto de Saúde e Desenvolvimento Social (ISDS) que desenvolve estudos e projetos na área de saúde e desenvolvimento social. Outro parceiro é o Centro de Defesa da Criança e do Adolescente (Cedeca). E, na área da cultura, trabalham também juntamente com o Teatro José de Alencar, o Teatro da Boca Rica e a Federação do Teatro Amador, todos de Fortaleza (CE).

Recentemente, o grupo ganhou apoio do Fundo Ângela Borba, que financia projetos sociais ligados à melhoria das condições de vida das mulheres. A iniciativa foi uma das ganhadoras do V Concurso do Fundo e passou a receber recursos para a realização de seu espetáculo.