Nùcleo de Teatro de Rua ELT

Tuesday, May 23, 2006

UMA ORIGEM DE BRINCADEIRAS


Abram Alas pros Menestréis,João Grilos e outros Capetas mais.
A história do teatro na cidade do Recife registra momentos férteis de um tipo de linguagem chamada Teatro Popular. A expressão teatro popular é bastante complexa e leva a um discurso à parte sobre o que é e o que não é popular.


Tomando como referencial o pensamento de Hermilo Borba Filho que diz "a arte popular é toda aquela surgida espontaneamente entre o povo, o povo mais simples de uma sociedade, o resto, é uma sofisticação em nome do gosto popular", recorremos aos autos e folguedos que encontraram berços esplêndidos nos bairros recifenses, como verdadeiras manifestações populares de um teatro não declarado, pelo simples fato desses artistas populares dos bumbas-meu-boi, dos pastoris, dos cavalos marinhos etc., não terem a consciência dos atores e atrizes que eram (ou que são), nem tampouco serem respeitados como verdadeiros artistas, pelas camadas dirigentes da sociedade. Mesmo assim, esses brincantes marcaram época e continuam a influenciar artistas dos mais variados segmentos até hoje, a exemplo dos espetáculos teatrais de Antônio Carlos Nóbrega, os shows musicais de Alceu Valença, a dramaturgia de Ariano Suassuna, as encenações do Teatro União e Olho Vivo da cidade de São Paulo, entre muitos outros. Assim sendo, o teatro popular na cidade do Recife tem a idade da migração do homem do campo à cidade grande, trazendo em seus bens as preciosidades de um ganzá, de um pandeiro envolto em fitas, ou mesmo de uma bexiga de boi, em substituição às máscaras gregas da Procissão Dionisíaca (berço de tudo o que se chama teatro na civilização ocidental).


Os principais elementos que compõem uma representação teatral, tais personagens em conflito; signos em ação e comunhão entre público e artistas no jogo do faz-de-contas, também estão presentes e evidentes nos folguedos populares, basta lembrar os personagens Bastião, Mateus, Capitão e Catirina, que no jogo cênico do "brinquedo" travam diálogos como esse de um Bumba:

CAPITÃO - Mateus, vem cá!
MATEUS - Pronto, sinhô.
CAPITÃO - Que negócio é esse?(aponta para um morto carregando um vivo que surge no meio da roda)
MATEUS - Sinhô, eu não sei não, eu tou assombrado, eu nunca vi isso.
CAPITÃO - Vem cá, Sebastião!
BASTIÃO - Pronto, sinhô
CAPITÃO - Tu tem coragem de examiná aquela marmota que apareceu ali?
BASTIÃO - Eu tenho, sinhô. Agora,sozinho eu não vou não.



Com representações desta natureza, entre tantas, o Capitão Antônio Pereira marcou com dignidade e perseverança um dos mais autênticos teatros populares nordestinos, na cidade do Recife, com o seu saudoso Boi Misterioso. Com esse boi, o Capitão Antônio Pereira chegou a levar à cena 31 personagens (figuras) em encenação de rua (brinquedo de terreiro), no bairro da mustardinha, onde era sediado.Mas nem só das brincadeiras vivaldinas dos Joãos Grilos e outros menestréis encapetados, vive o teatro popular.


Seja na capital ou no interior pernambucano, outras expressões desse teatro se manifestam, tais como Mamulengo, Drama Circense e o Teatro de Rua, considerados por artistas e imprensa, como os verdadeiros embaixadores do Teatro Popular.

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