Nùcleo de Teatro de Rua ELT

Wednesday, April 26, 2006

FAUSTO FUSER E AMIR HADDAD - Uma interessante discussão sobre o fazer teatral na rua

Por Nanda Rovere


"O teatro carrega consigo a possibilidade de transformação" (Amir Haddad)


"Há muito teatro feito na rua, mas isso não é conhecido, porque tais manifestações não têm apoio oficial, nem o apoio da mídia" (Fausto Fuser/Amir Haddad)


Fausto e Amir são importantes personalidades do teatro brasileiro. Fausto foi professor na área de Artes Cênicas na USP e crítico teatral. Amir é ator, professor, diretor e coordena o grupo Tá na Rua, excelência em teatro de rua. Pela primeira vez em seus quatro anos de existência, a Mostra Rio-SP de Teatro de Rua de Paraty abriu um espaço para debate sobre o fazer teatral na rua.


Não que ele não existisse nas edições anteriores mas, neste ano, a Casa de Cultura cedeu o seu auditório para um encontro "oficial" sobre o assunto. Fausto lançou uma pergunta muito pertinente: deve ser feito como alternativa para suprir a falta de espaços fechados para encenações? Na sua opinião, a resposta é negativa, pois "o teatro de rua possuiu uma linguagem própria, diferente das montagens apresentadas em salas de espetáculos".


O maior desafio dos realizadores do teatro de rua é buscar uma organização do imaginário que não seja contemplada pelo teatro tradicional. O professor também falou sobre as origens dessa manifestação teatral. Apresentações nas ruas sempre existiram nas festas em invocação à fertilidade, à vida, ao amor, ao nascimento, etc.


Seu início ocorreu entre as pessoas mais pobres, para depois estas manifestações serem apossadas pelos palácios, pela classe dominante. A exposição de Fausto foi pequena e ele logo passou a palavra a Amir Haddad, o qual, na sua opinião, detém o conhecimento prático sobre o teatro de rua.


Teatro de Rua por Amir Haddad

Amir faz teatro de rua por acreditar no ser humano, no futuro. Quer estabelecer com o público uma relação direta.

Defende que é impossível dissociar teatro de rua da nossa realidade social e política, na medida em que a função do teatro é contribuir para a obtenção de um mundo melhor.


O artista deve viver a utopia da possibilidade de transformação ao realizar um espetáculo. As questões (indagações) pertinentes ao fazer teatral na rua foram surgindo através da participação da platéia.


Certamente, um dos questionamentos mais interessantes foi quanto ao significado do teatro de rua hoje. Tanto para Fausto quanto para Amir, o dever das manifestações artísticas, sobretudos as de rua, é a democratização do diálogo e o abandono de qualquer tipo de preconceito. Para se trabalhar nas ruas é primordial a interação com qualquer tipo de grupo.


O estabelecimento de parâmetros técnicos de encenação é necessário, pois a linguagem do teatro de rua deve ser diferente da utilizada no teatro tradicional. Se, neste último, as pessoas pagaram ingressos e/ou planejaram o passeio, no primeiro, geralmente, o público é pego de surpresa. E como conquistar esse público? Estabelecendo um contato de respeito para com ele, mostrando um espetáculo que fale direto ao seu coração e, ainda, que busque a interação com pessoas diversas.


Quando a energia trocada entre atores e espectador é positiva, é maravilhoso. Mas como agir quando isso não acontece, ou mesmo quando a platéia interfere no andamento da ação dramática?


Amir deu um exemplo bastante ilustrativo:Numa apresentação do Tá na Rua em um favela carioca, uma das moradoras da comunidade (desprovida de encantos, conforme os nossos padrões de beleza) tentou beijar um dos atores que estava em cena. Ele não titubeou e a beijou! Com este ato, o Tá na Rua provou não ser somente teórico o seu discurso sobre a participação da platéia nos seus espetáculos e o abandono de qualquer tipo de preconceito.


Infelizmente, o tempo foi curto, mas o debate se constituiu numa oportunidade ímpar para se pensar o teatro de rua. Fica aqui o pedido para que encontros como este façam parte da agenda das futuras edições da mostra em Paraty.

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